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Um tablado comprido, quase um corredor. No canto direito, uma mesa, cadeiras, um armário de louças. E lá vem ela. Idade indefinida em sua velhice, ela vem preparar seu chá. Mas venta, venta muito, venta demais. O vento quase paralisa seus passos em direção à mesa. O cachecol que supostamente cairia sobre suas roupas, flana impávido em uma absoluta horizontal. Com muita dificuldade, ela chega à mesa, se ampara na mesa, traz seu chá, senta, serve uma xícara… E aí a horizontalidade se apresenta: lá se vai o líquido dourado em direção a qualquer lugar, ao sabor do vento. Essa cena improvável constitui a proposta do Coletivo para uma livre leitura de ATO SEM PALAVRAS I, 2014. A cena de Beckett traz um “náufrago” do deserto, caído (do céu?) em meio à areia. O espaço cênico, embora aberto, é uma caixa fechada da qual o ator não pode romper os limites. Ele é pautado por sons e pelo aparecimento de elementos que não consegue alcançar (em especial, como esperado, uma garrafa d'água). Toda ação é fadada ao fracasso. Assim, entre a idosa e o náufrago, o que se tem em comum é o fracasso (e a insistência). É a sobredeterminação da ação (um reconhecimento, talvez, da iniquidade dos esforços do humano para dominar o seu entorno). Ela falha, mas dentro de sua história.

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