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Em BALANÇO, 2001-2011, uma mulher “prematuramente velha” se coloca sozinha em cena. A voz que se escuta em off, a sua própria, está descolada de seu corpo, como se não lhe fosse mais possível falar, e o movimento da cadeira de balanço parece ter-lhe roubado seu próprio movimento, já que permanece estática até o último momento da peça, em que inclina levemente a cabeça. Nesta obra [como em outras], Beckett retira da atriz a centralidade física da ação [desta vez tirando-lhe a palavra] e ocupa-a, no palco, com demandas de atenção, convocando-lhe a um estado de presença plena. Na gravação do off, a atriz retoma sua centralidade ao interpretar um texto de frases curtas, estruturadas como poema, que trazem informações sobre a vida e os sentimentos dessa mulher. A cadeira de balanço, elemento visual e narrativo essencial à obra, foi ressignificada por Adriano e Fernando Guimarães. Ao invés da cadeira em madeira pálida com braços arredondados que parecem abraçar sugerida por Beckett, os encenadores criaram uma cadeira preta, de braços retos e verticais, que escondem neles mesmos o mecanismo de iluminação para o rosto da mulher nas passagens de uma seção a outra. A cadeira, nestas condições, adquire feições de berço, mas também de armário, de caixão – elementos recorrentes ao longo de todo o Projeto Beckett. Este recurso, aliás, se configura como um dos principais dispositivos ativados pelo Coletivo na montagem das obras do dramaturgo irlandês: por meio da variação e criação de elementos visuais conseguem infiltrar discursos autorais na controlada dramaturgia de Samuel Beckett.

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