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Por Marco Túlio Costa

 

Impacto Macbeth I

E o público (estarrecido) não se levantou no final de Macbeth Mauser, em cartaz na Nepomuceno. Permaneceu sentado, tentando digerir a carga de emoção que por pouco mais de uma hora provocou todas as reações. É Macbeth Mauser. Desde a entrada, já se sente que estamos diante de algo sobrenatural. Em seguida, espíritos vagam entre as mentes da plateia envolta numa nuvem de fumaça, saindo das velas fúnebres. O design é pós-moderno. O cenário opressor – sem saída. E os atores interpretam um poema que parte das entranhas. Num exercício doloroso, que causa arrepios à plateia atônita, desacostumada a ver o novo. Perigo, medo e o público estático, diante do inesperado. A música dá o clima. E começa o espetáculo: como viver sob o estigma da morte? As forças ocultas impulsionam o homem ávido pelo poder a cometer o crime. O homem mata para sobreviver –bichos. O homem mata pelo poder – homens. Assim se dá Macbeth. Mas como permanecer claro, quando a escuridão atormenta a mente? Como viver carregando a culpa? Os obstáculos são muitos e a Feiticeira se ocupa em aumenta-los. Quanto mais etapas são vencidas, mais pedras ele é obrigado a retirar do caminho doloroso.

 

Impacto Macbeth II

O exercício teatral, tira dos atores o máximo de emoção. É angustiante assistir a angústia dos personagens se debatendo contra aquelas paredes frias e oxidadas. Uma mesa, três cadeiras desconfortáveis, como num exercício de arquitetos pós-modernos, e velas, muitas delas fazem o cenário, além de folhas secas. Os trajes são quentes, pesados, invernais. A Feiticeira se move sem pronunciar uma síbala. O texto fica por conta de Macbeth e sua Lady. No início, a anunciação – a profecia (serás rei, a qualquer custo). Em seguida a negação, mas a Lady, como uma espécie de Eva Dark, o conduz. E o sangue, o rompimento, significando a derrubada de todas as ligações com o real. Até a coroação de um novo rei, triunfal. Depois a culpa, que faz que os personagens consumirem-se no fogo das velas, da busca de uma saída, naquele palco sem saídas. Até que as forças acabam e o rei se rende diante da morte. A tormenta o impede de ser mais uma vez vencedor. Um clima tenebroso se instalando do começo ao fim, num ambiente esfumaçado, cheio de música. Os expectadores mudos; sem forças (como quem participou de um exorcismo) não encontram força pra aplaudir.

 

Publicado no Jornal de Brasília, 22 de agosto de 1990.

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