Os Irmãos Guimarães relatam o processo de criação de KYRIE PARA TERESA DE ÁVILA, 1991, como performático e sensorial, a partir principalmente de imagens e pouca preocupação com o texto – ironia herege metalingüística [kyrie é um rito litúrgico de penitência] àquela que foi considerada doutora da Igreja. O ponto de partida da dramaturgia foram os escritos deixados por Teresa e uma leitura desses escritos pela perspectiva da tensão que se insinua entre o êxtase com o Divino Esposo e a lucidez de sua fé. Em texto crítico sobre o espetáculo, Marcos Savini pontua que “a montagem privilegia personagens mais alegóricos que biográficos”, indicando um tipo de composição de personagem que não busca prioritariamente a representação histórica, mas o reforço de determinadas características de personalidade [algumas delas, inclusive, sendo a personificação de instituições – como a própria inquisição transformada em padre Inquisidor] e a duração das ações no tempo. O jogo alegórico se afirma ainda mais na contenção de cada personagem em campos de ação delimitados – procedimento retomado, originado nas investigações do coletivo sobre o estatismo. O contraste claro/escuro no figurino, os pães, os véus e os demais elementos clericais da cenografia compõem a proposta espacial da montagem – já que também não se trabalha com a representação de espaços, nem tampouco com sua dependência narrativa.