NADA, 2012-2013, é um espetáculo dedicado a Manoel de Barros, poeta sul-mato-grossense que passou a vida a fazer versos sobre a pequenez e as miudezas de seu cotidiano. A pesquisa empreendida nesta peça é a compreensão e a materialização cênica desta qualidade das coisas. A obra parte de uma consciência que os Irmãos Guimarães adquirem sobre seus procedimentos, neste caso, em especial, a forma de criar colocando-se ao lado, como uma espécie de comentário à obra do artista a partir do qual criam seus espetáculos. Desde o início desse dispositivo em Nelson até seu assentamento durante todo o projeto Beckett, desenvolvem um tipo de escrita cênica em que o autor de partida se faz presente por meio de seus dispositivos de criação muito mais do que por sua hegemonia estruturada em formato de texto. Também radicalizam seu incômodo sobre a representação, criando personagens que respondem a dispositivos de jogo postos em cena muito mais que a marcas e rubricas. Abertos à improvisação, os atores atuam em processo, interagindo e se modificando [qualidade que Deleuze atribuiu ao mapa] ao invés de reproduzir as relações e modelos presentes na representação em seu sentido tradicional [qualidade que Deleuze atribui ao decalque]. São atores-mapa, não atores-decalque. Na peça, o espectador acompanha uma convivência em família durante o aniversário do avô sem se dar conta que ela esteja exatamente acontecendo. A disposição do público circularmente em cadeiras, como na sala de visitas da casa na fazenda, favorece a atmosfera intimista proposta pelo trabalho e a evolução da dramaturgia, que consiste maiormente nas relações que se estabelecem com esse público e nas respostas às interações ator-ator, ator-público, público-público. A cenografia [composta por centenas de objetos de vidro] existe para além do espetáculo e sua função de instalação assume lugar destacado na montagem. As qualidades transparente e frágil da matéria do vidro potencializam a delicadeza do universo proposto por Manoel de Barros e devolvido ao teatro nesta narrativa de transparências insinuantes, de segredos, saudades e festa.