NO RITMO DAS FÁBULAS, 2006, é o único espetáculo infantil na carreira do coletivo Irmãos Guimarães. Assim como Bob Wilson, se debruçam sobre o universo fabular de La Fontaine. [Novamente, recorrem a textos literários para criar dramaturgia.] Na montagem, retiram a cenografia e a composição visual do espaço se dá a partir da luz e da manipulação de elementos narrativos, especialmente na caracterização dos animais [com inspirações carnavalescas]. Assim, apóiam-se na visualidade em caráter performativo para criar situações fantásticas que nos remetem aos delírios visuais da própria literatura de La Fontaine. Um exemplo são as esferas brancas enfileiradas sob a luz negra na fábula em que a cabeça da cobra briga com o rabo. Esse jogo também se constrói entre o que é mostrado e o que é sugerido, abrindo possibilidades de imaginação e criação imagética por parte do espectador. O espetáculo apresenta cinco fábulas, cada uma delas sincretizada com uma região do Brasil, e é conduzido por uma narradora, que ativa a tradição épica do mundo infantil e retoma sua capacidade de aprender por meio das histórias. Modernizada, a narradora é robótica e tem um cachorro robô que interage com as crianças. A música também exerce papel central na montagem, sendo atribuído para cada fábula um ritmo musical regional [opereta, sertanejo, música indígena, xaxado e samba] – ecos possíveis da comentada montagem de Pedro e o Lobo, de 1980, em que Guilherme Reis adaptou o clássico de Prokofiev transformando os bichos sincretizados com instrumentos musicais por bichos sincretizados com ritmos brasileiros.