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Por Alberto Guzik

 

Encerra carreira no próximo domingo uma pequena obra de ourivesaria. É Provisoriamente Paixões, que veio de Brasília para curta temporada no Espaço Off. A montagem baseia-se em dois contos de Marguerite Yourcenar, tirados do livro Fogos. Fernando e Adriano Guimarães escolheram Maria Madalena ou a Salvação e Climnestra ou Crime. Os relatos tratam de mulheres à beira da crise, impulsionadas por paixões históricas. Os jovens encenadores fizeram com esses contos um trabalho intimista, camerístico, no qual a força do instinto é contraposta ao requinte formal, à contenção, ao horror da desmesura. Uma aura de delicadeza envolve a encenação, chocando-se contra a violência que lhe serve de tema.

Os diretores demonstram maturidade e segurança no trato com a matéria teatral. O espetáculo atinge instantes de pura magia. Madalena e Climnestra têm contrapostas as narrativas de suas paixões, e o ímpeto do homem primevo irrompe da prosa medida e elegante de Yourcenar.  O corpo de um homem, metáfora de cristo e de Agamemnon, surge no palco e parece flutuar no ar. A iluminação é inspirada, e a trilha sonora, adequadíssima. O espetáculo conta com interpretações de Tetê Sobreira e da ótima Dora Wainer. Provisoriamente Paixões é uma encenação que não se deve perder. E indica muita maturidade e inteligência fora do eixo Rio-São Paulo.

 

Publicado no Jornal da Tarde, 4 de outubro de 1989.

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