PROVISIORIAMENTE PAIXÕES, 1989, é o espetáculo de estreia do coletivo Irmãos Guimarães, que aponta, já nesse primeiro trabalho, algumas características e procedimentos que marcariam seu estilo de criação, como as investigações acerca do estatismo e a construção de material cênico a partir de materiais literários, não-dramáticos – neste caso, a obra Fogos, da escritora belga Marguerite Yourcenar. Vistas sob o prisma de Yourcenar, Clitemnestra e Maria Madalena realizam a dissecação de um corpo masculino – dissecando, em outras instâncias possíveis, o próprio conceito de amor em sua qualidade abstrata e provisória de paixão. O ponto de partida da dramaturgia é a imagem de um homem sobre uma mesa de dissecação. A mesa, além de determinar linhas muito precisas na composição visual e sugerir uma certa curiosidade científica em relação àquele corpo, remete a símbolos sugestivos como altar e pedestal. A ação se concentra em torno da mesa [onde as mulheres fazem, de fato, uma dissecação] e de duas cadeiras, onde as atrizes estão e para onde sempre voltam [determinando a linha de movimento das personagens]; o homem deitado na mesa não se movimenta, é um corpo estático. A interpretação e a caracterização das personagens, assim como os elementos de iluminação, indicam um interesse por vestígios expressionistas na composição da cena. O espetáculo foi remontado em 1993, com novo elenco e o chão coberto de folhas secas. O procedimento de remontagem viria a ser uma marca estilística na atuação do coletivo.