Em A COMÉDIA DOS ERROS, 2010, Shakespeare põe em cena sua habilidade como ficcionista, apesar de muitos afirmarem ser esta sua primeira peça. Na trama, dois pares de gêmeos são separados por um naufrágio e acabam se encontrando vinte e três anos mais tarde em uma mesma cidade, causando toda sorte de confusões. Ao buscar o irmão perdido, o gêmeo de Siracusa parece buscar a si mesmo, o que nos sugere tratar-se a peça de uma comédia sobre identidade. A qualidade de uma ficção muito bem desenvolvida, calcada em uma trama que beira o absurdo [dois pares de gêmeos idênticos!], determina o interesse do coletivo em torno desse texto dramático clássico. Toda a ação acontece em um único dia e o curso dos acontecimentos é acelerado. Nessa perspectiva, carrinhos de supermercado são colocados em cena como principal elemento cenográfico. A metáfora se dá na relação posta pela presença dos carrinhos [propulsores de velocidade] e a rapidez do texto. Centrais na encenação,funcionam também como dispositivos de configuração espacial, determinando os limites e as funcionalidades do espaço. A partir deles chegamos, ainda, a uma possível tese dos diretores sobre o tema do espetáculo: como os carrinhos, que se movem, as identidades são moventes. O recurso se apóia no princípio básico da teatralidade, onde a ação e o jogo cênico transformam e ressignificam o objeto – tratamento que exacerba justamente a teatralidade presente em Shakespeare e direciona o foco do espectador para a criação dos atores.