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Em EU NÃO, 2003-2008, um foco recortadíssimo ilumina a boca de uma mulher que fala suspensa numa plataforma a dois metros de altura. Para a montagem deste que é um dos monólogos beckettianos mais complexos de serem realizados teatralmente, Adriano e Fernando Guimarães investem na interação com a tecnologia e reforçam a hibridez da obra com o cinema. O desafio anti-teatral é colocado pelo próprio Beckett, já que o recorte da boca é praticamente um plano detalhe. Assim, a dupla desenvolve um mecanismo em que se acopla uma câmera e a boca da atriz é filmada e projetada em tempo real. A urgência polofônica da personagem de Eu Não [cujo texto em intenso fluxo constitui um desafio concreto de memorização, controle e atuação para a atriz] é sugerida pela multiplicação da projeção em inúmeros televisores de tamanhos diferente espalhadas pelo palco. A magnitude da cenografia tecnológica ofusca o elemento vivo da cena e os espectadores custam a perceber que há, de fato, uma mulher em cena – ou um pedaço dela [e novamente Beckett aponta para a falência do sujeito inteiro]. A qualidade verborrágica e fragmentada da narrativa da mulher influencia o texto do vídeo-dança realizado pelo Coletivo no âmbito da exposição no singular. nada se move, de 2013. Ver no singular. nada se move.

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